A economia por trás das Vuvuzelas
O mundo inteiro está em clima de Futebol. A 19º Copa do Mundo – o 2º maior evento esportivo do planeta, atrás apenas das Olimpíadas – acontece na África do Sul, no continente Africano, que – assim como outros países que já foram sedes do campeonato – comprova o poder deste evento que, nem de longe, se resume só a futebol. A Copa do Mundo é, politicamente, uma grande estratégia para atração de investimentos e atenção internacional. Exemplo disto é o que acontece com a África do Sul, que saiu da imaginação popular e passa a ser conhecida por sua diversidade cultural, de raças, idiomas e crenças religiosas. São os impactos econômicos e sociais incalculáveis do negócio por trás das vuvuzelas. Para falar um pouco mais sobre este assunto, o Diretor da Rede de Farmácias Multmais, Wanderley Fernandes, concedeu uma entrevista ao Portal Multmais. Confira abaixo.
P. Multmais: Para começar a nossa entrevista, você acreditava na vitória do Brasil na Copa do Mundo 2010?
Wanderley: Tanto do Brasil como dos outros campeões: Alemanha, Argentina e Itália. Não lembrava mais do Uruguai como campeão, já o considero uma “zebra”. Acreditava que um dos quatro, com certeza, estaria na final. Foi o que aconteceu nas 18 Copas dos últimos 70 anos. Em muitas delas, inclusive, estiveram dois desses quatro times na disputa final. Provavelmente, a Alemanha – pois, infelizmente, o Brasil foi eliminado, assim como a Itália e a Argentina – tem a maior chance de conquistar a Copa do Mundo 2010.
P. Multmais: Quais são, a seu ver, os impactos econômicos de uma Copa do Mundo?
Wanderley: Nós não temos os números precisos, mas - com certeza - os impactos são grandes. Pesquisas recentes falaram numa injeção de R$ 142 bilhões na economia brasileira em 2014. Fala-se muito dos custos, do investimento, mas isso tudo tem retorno em turismo, divulgação e auto-estima do país, embora nem sempre seja possível mensurar esses ganhos. A Tanzânia, por exemplo, ninguém sabia o que era. Bastou um amistoso do Brasil no país para, no outro dia, todo mundo falar na Tanzânia. A mesma coisa acontece com a África do Sul. Com certeza tem sido uma surpresa para muita gente as imagens, a cultura, as pessoas, os problemas, o que já foi resolvido e o que não foi. Recentemente, uma reportagem mostrou que, com o fim do apartheid, cerca de 800 pessoas brancas fundaram uma cidade onde só tem brancos, uma resistência ao fim do regime e nós desconhecíamos isso. A Copa do Mundo, portanto, dá visibilidade aos acontecimentos no país. A economia faz parte de tudo isso. O que não se sabe é se os investimentos são feitos da melhor forma. Talvez não fossem necessários estádios tão luxuosos, por exemplo. A infra-estrutura também poderia ser pensada para que, depois, fosse reaproveitada.
P. Multmais: Que tipo de benefícios e oportunidades a Copa do Mundo gera para as empresas em todo o mundo?
Wanderley: Como todo grande negócio, as oportunidades surgem por todo lugar, vai da criatividade das empresas. Dentro de cada segmento, o mercado deve saber explorar as oportunidades da forma que mais lhe favorecer. É preciso ser inteligente. Existe o segmento favorecido de forma direta, como o de turismo, transporte e alimentação, mas também têm as oportunidades que surgem de forma criativa, como as vuvuzelas. Agora, a 25 de março, em São Paulo, só pensa em vender isto. Existe até fábricas delas aqui. Enfim, tem o mercado que cresce como um todo, pelo fluxo de gente e pela emoção que faz as pessoas comprarem camisas e decorarem as ruas e casas e tem as oportunidades que surgem e devem ser aproveitadas.
P. Multmais: Como o mercado deve aproveitar este momento?
Wanderley: Da melhor maneira que cada um pode. É um momento em que as pessoas estão com a auto-estima bacana, o país está em movimento e o dinheiro está circulando. As empresas e as pessoas devem tirar proveito através daquilo que sabem fazer, com muito trabalho e criatividade, é claro. Acredito que esta seja a receita.
P. Multmais: No caso dos empreendimentos que não estão relacionados ao futebol, a exemplo de farmácias, é possível criar mecanismos de promoção do negócio?
Wanderley: No caso das farmácias, especificamente, não é possível criar promoção para consumo de medicamentos, mas o mercado deve estar preparado para aproveitar o aumento natural do fluxo de pessoas no país. Segmentos que não estão diretamente relacionados com o futebol também podem tirar proveito. Em época de Copa do Mundo, por exemplo, é possível encontrar roupas com o tema, chocolate em formato de bola de futebol, bolsas em verde e amarelo, latinhas de cerveja comemorativas, lâminas de barbear nas cores do Brasil, entre outros inúmeros artigos em homenagem ao evento.
P. Multmais: A Campanha Multprêmios utiliza, na logomarca, as cores do Brasil – o que faz uma referência à Copa do Mundo -, e, na decoração das lojas, bandeirolas, o que remete ao São João. De que forma esses detalhes favorecem a Campanha?
Wanderley: Então, a campanha não poderia ser diferente. Apesar de tratar-se de uma promoção voltada para a compra de produtos nas áreas de higiene pessoal, limpeza e conveniência, o apelo visual deve estar de acordo com o momento das pessoas, que é de São João e Copa do Mundo. É o clima, né? O negócio agora é este, bola e forró... [risos].
P. Multmais: Em sua opinião, o Brasil estará preparado – no que diz respeito aos fatores de infra-estrutura, atendimento, economia e turismo – para receber a Copa de 2014?
Wanderley: É uma promessa, mas, aqui, a gente desconfia. Ainda há pouco o estádio do Morumbi foi excluído para a abertura da Copa de 2014. Imagine você ter uma Copa do Mundo no Brasil e São Paulo estar fora por problemas de investimento. Aqui em Salvador temos um metrô de 10 anos que não avança, então, é difícil se manter otimista. A FIFA [Federação Internacional de Futebol], com certeza, tem mecanismos para fazer com que as coisas aconteçam, pelo investimento que gera no país, mas esperar por grandes melhorias é complicado, afinal, temos visto muita obra inacabada. Acho que a desconfiança por parte da população é generalizada no país. As melhorias vão acontecer, mas não no nível das promessas e expectativas de uma Copa do Mundo.
P. Multmais: Até lá, como o Governo e as empresas devem se preparar para o megaevento?
Wanderley: Com muito planejamento e trabalho. O problema é que as coisas já começam a acontecer com pouco profissionalismo, a exemplo do episódio do Morumbi. É como o Presidente da CBF [Confederação Brasileira de Futebol] falou, que se empurram as coisas com a barriga durante dois anos e meio e, agora, quando tudo deveria acontecer de fato, volta-se à estaca zero. Isso tudo gera muito descrédito. Não existe sequer uma obra - que eu tenha conhecimento - que já tenha começado. A Copa acontece em 2014, portanto, já estamos atrasados no que diz respeito à infra-estrutura. Ouvimos que o cronograma está sendo cumprido, vemos colocar tapumes, mas não vemos as obras. É temeroso. Quanto às empresas, elas têm que tentar melhorar, mas não se conserta serviço, atendimento e qualificação em quatro anos. Isso é um processo de educação, envolve uma ou duas gerações. Imaginar que vamos resolver tudo isto em apenas quatro anos? Acho que precisamos nos esforçar de forma coletiva para atender bem o turista, como sempre fazemos, do nosso jeito... batendo tambor, enfeitados... agrada!
P. Multmais: Quais benefícios a Copa do Mundo de 2014 deve gerar para o Brasil?
Wanderley: O que gera em todo lugar. O Brasil vai ganhar mais visibilidade lá fora, uma super divulgação mundial. A FIFA tem mais países filiados do que a ONU, que tem cento e oitenta e poucos, contra os mais de 200 da FIFA. Vamos ter pessoas no Brasil que nunca vieram aqui, artistas, personalidades... É o mundo voltado para o Brasil. É impossível não termos grandes benefícios com isto.
P. Multmais: Para finalizarmos, qual foi, até agora, o lance mais bonito da Copa do Mundo de 2010? E o maior furo?
Wanderley: O lance mais bonito é o fato da Copa do Mundo de 2010 acontecer na África. Sem querer ser bonzinho, mas acho que todos os países, de alguma forma, devem à África. Faz pouco tempo que acabou o apartheid e, com todas as dificuldades, eles estão fazendo a Copa deles. Fizeram uma abertura muito bacana e o evento está acontecendo, é um fato. É fantástica a cultura, as pessoas, a fauna... estamos conhecendo não só a Africa do Sul, mas todo o continente. Quanto ao maior furo, sem dúvida, para nós, fanáticos por futebol, foi a saída do Brasil.